[A beleza e as Bestas] Buffy vs. Glory: estranhas em um mesmo ninho

“No Universo de BACV, a estrutura e até a própria existência de nosso mundo são determinadas por nossas escolhas básicas. Medo e Amor são os dois polos em torno dos quais mundos inteiros são construídos. A tensão fundamental entre eles determina nossas escolhas básicas e cria a dinâmica da evolução do nosso mundo humano.” A caça-vampiros e a Filosofia – Medos e calafrios em Sunnydale pág. 114

A quinta temporada de BTVS (2000 – 2001) talvez tenha sido a mais decisiva na história do seriado. A começar pela expectativa gerada pelas emissoras de ser a última. Sabendo disso, Joss Whedon quis dar um fim adequadamente heroico a nossa caçadora, colocando-a numa posição em que se sacrificaria pelo Amor à sua família. A vida ficou dura para ela, que muitas vezes não entendera o grande Dom que tinha. Amar intensamente a levaria a seu grande Dom. A Morte. Mas antes Buffy teve de enfrentar seu maior desafio até então. Não era um vampiro e nem um Demônio. Não era nada que a Boca do Inferno costumava lhe oferecer. Tratava-se de um Deus. Glory Glorificus que exilada na Terra desejava mais do que tudo, sair desse mundo insano de pessoas desprezíveis. 

A apresentação triunfal de Glory em BTVS:
Vilã inesquecível

O que seria o fim da jornada, uniu ainda mais o Universo familiar da caçadora entre bruxas, Demônios e vampiros. Tara e Willow, Anya e Spike juntamente com Xander e Giles, deram o suporte necessário a Buffy no desafio de completar sua missão de proteger a chave, sua irmã Dawn. A menina fora criada pelo Monges de uma outra Dimensão para escondê-la de Glory, que é mostrada em algumas vezes como um Ser humano como qualquer outro. Mérito do feitiço bem criado que a limitou no corpo do jovem médico Ben. Até a metade da temporada ninguém sabia da ligação entre Glory e Ben. Um era o outro e vice-versa e assim se sucedia até que o Poder de Glory tornou-se forte o suficiente para não ser mais contido pelas boas intenções do rapaz, interpretado pelo discreto Charlie Weber. 

Charlie e Ben: ator que se misturou com o personagem

Uma Deusa em todos os sentidos! A altivez que acompanha a personagem de perfeita fusão entre o humano e o divino, tornou a loira uma das maiores vilãs que Buffy já enfrentou. Não apenas pelo fato de conseguir arremessar a caça-vampiros de uma sala até a outra. Não, seus poderes consta a belíssima construção dos trejeitos inquietantes que carrega consigo. É impossível não deixar de adorá-la diante de grandes embates, frases profundas em momentos de auto avaliação, uma incrível empatia e senso de humor, que conquistou a todos não por medo, mas por opção. A jovem intérprete Clare Kramer deu um tom exato a “Deusa perua vítima da moda”. 

Se o tom cômico, mais leve merece muita menção, a parte dramática, mais tensa também não deixa a desejar. Esta antítese de lados entre o Bem e o Mal bem explorada pelo talento e carisma da atriz, rendeu com certeza vários momentos de embate verbal e corporal com Buffy, ajudando a fazer da quinta temporada para alguns, a melhor de todas.

Clare e Glory: uma extensão da outra

Se a missão de Buffy era tentar proteger de Glory a tal Chave personificada na sua irmã mais nova, a Deusa também tinha muito desafios à sua frente. Nem mesmo seus poderes eram capazes de descobrir o paradeiro daquilo que a levaria para sua Dimensão Natal, mesmo que para isso destruísse o mundo. O tempo passava e toda a inquietação aumentava em meio a pistas falsas, fracassos e Ben, que parece muito mais relutante em ajuda-la. Ainda mais quando o médico se afeiçoa a Buffy e a família dela. Até que numa bela tarde, ela consegue a informação que tanto queria. Tara, que havia perdido a insanidade depois de ter sido atacada por ela, revela a luz verde e brilhante contida na essência de Dawn. Dá-se início então a uma perseguição eletrizante, que só termina quando Dawn é levada por Glory depois desta ter sido revelada através de Ben. Buffy então entra num estado catatônico, se negando a sair da zona de conforto que agora virou sua mente. 

O peso do mundo

Para a vilã, o peso do mundo e tudo que ele representa era um caso complicado, afinal, descobrir o quê ou quem era a tal Chave que a libertaria de tanto sofrimento, suor e bílis de um corpo humano seria quase que impossível. Glory correu contra o tempo e mesmo que tivesse aliados, recursos e olhos para todos os lados, foi através do “lado de lá” que recebeu o direcionamento que tanto precisava. 

Para a heroína, o peso do mundo e tudo que ele representa agora parecia um fardo bem maior que podia carregar. Buffy passou por poucas e boas durante toda a temporada, sendo alvo de uma Deusa e de golpes duríssimos da vida que se elevaria a décima potência para qualquer ser humano comum. Segundo suas próprias palavras, não estava conseguindo viver em um mundo com tantas escolhas difíceis a fazer. Em outras palavras, o mundo tornou-se um lugar carregado de problemas e dificuldades que tanto Glory quanto Buffy gostariam de evitar e quando chegou o grande momento, ambas se foram.

A morte de Glory e Buffy: mesmo tempo, mesmo lugar

Glory foi derrotada por Buffy em combate com uma ajudinha providencial do Martelo do Deus Troll. E quando sua parte humana (Ben) se revelou, Giles não teve muito trabalho para completar o serviço. Já Buffy não conseguiu conter o sangue de Dawn que jorrou abrindo o Portal dimensional e não pensou duas vezes em se sacrificar atirando-se nele, partindo desse mundo, deixando para trás todo o peso que ele lhe acarretava. Sua missão como caçadora fora cumprida usando o Dom descoberto recentemente. 

“A coisa mais difícil neste mundo é viver nele” – The Gift. Visto todas as dificuldades que ele sempre irá nos apresentar, cabe a todos os seres, seja desta ou de outra dimensão, lutar com todas as armas que possuirmos não apenas para sobreviver ao mundo nos apresentado, e sim vive-lo intensa e imensamente.